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Trust4ever: Chove em Pedorido

Thursday, October 26, 2006

Chove em Pedorido

Parda a madrugada desponta em Pedorido. As casas encosteiradas pela serra acima, parecem abandonadas ao sabor dos mistérios da noite que as cobriu. Uma paz milenar abate-se sobre a terra. A noite acolhe em manto de silêncio, os corpos estafados dos que cavam o chão. De vez em quando um mocho pia agoirento e, o sinistro grito dilui-se lá longe na neblina. Dorme o povoado em paz orvalhada, as feridas abertas pararam de sangrar por instantes, tentam cicatrizar no résteo repouso. A alvorada lúcida vai interromper a obra caridosa da natureza, breves são os momentos de tranquilidade, que cedo vem a ordem de avançar em busca do pão.De horizontes tapados, só mais tarde este lugar sentirá o raiar da claridade, assim, deixa-se ficar mais tempo ao abandono do descanso merecido.A alvorada rompe as barreiras, um raio de luz clareia a serra desferindo o golpe final à noite cerrada, não tarda que o povoado mexa, que as casas de xisto fumeguem por todo o lugar. Livra-se assim da noite mas o sono, esse, há-de de permanecer aqui, o sono e o aspectro dos crimes cometidos pela calada das noites, tiros desferidos à queima-roupa que trespassam os corpos de quem cai nas malhas do vinho da tasca do Iscas. Mortes silenciosas tão inúteis como as vidas de quem os pratica. Há fantasmas em Pedorido como os haverá em outras terras. Uns, clamam por vingança, outros vagueiam pela aldeia porque nunca encontraram o caminho de regresso às suas terras de origem.Acorda Pedorido que a manhã vai alta. Acorda desse sono centenar, anda ver o sol a crestar as serras da outra banda que só pela tarde te há-de afagar o rosto. Anda vê-los passar, são tantos, vão para o degredo de Germunde. Humildes sim mas campeões nacionais de disco, de dardo, de atletismo e de natação. Aqueles a quem o Francisco Duarte, o Chico de saudosa memória, o homem bom, acarinha. Esse que das terras de Aveiro veio estender as mãos aos desgraçados, esse dos poucos a sentir pena e compaixão a pegar-lhes nas mãos calosas a faze-los viver momentos de honra e de glória. Eles agitam o pó dos teus caminhos com pesadas botas, cobrem a tua terra castanha avermelhada com pó negro, mudam-te a face que embora austera, nunca foi preta. Mandados por outros humilham-te os filhos, rasgam-te as entranhas dilaceram-te a alma e tu deixas.Acorda Pedorido, impede a gula dos estrangeiros, dos ciganos vadios do mundo, sem alma. Vem para a rua, sê testemunha ao menos da desgraça que te mutila. Acorda Pedorido que o Arda já canta e o douro já te beija os pés caridoso, amigo, companheiro. Ele tem pão para as tuas bocas famintas, tem sável, tem lampreia, tainhas, barbos bogas escalos e areia, muita areia que há-de suster as casas do Porto e de outras terras. Riqueza enorme, incalculável que o rio te deixa aos pés todos os dias. Fecha as portas do inferno, vira-te para o rio que é lá que está o ouro com que hás-de comprar o pão, é no rio que reside a vossa salvação.Só o silencio me responde!.. O sono é inimigo do cão... e começa a chover em Pedorido.

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